Tal como acontece com certas pessoas, também há lugares que não têm sorte. É esse o caso da Altura. Até aos anos 80 (sei eu que a frequento desde a adolescência) ir a banhos naquele local era um privilégio de algumas dezenas de famílias.
As dunas enormes que orlavam os quilómetros de areal que vai da Ponta de Santo António até perder de vista para os lados de Faro, faziam daquele lugar um autêntico paraíso na Terra. As condições excepcionais daquela zona, com aquele fabuloso areal e a mata acompanhando toda a costa foram sendo progressivamente pressionados.
Por qualquer “desígnio misterioso”, aquela que deveria ser a pérola de um concelho essencialmente rural foi abandonada aos patos bravos deixando que ali se instalasse, quanto a mim, um caos urbanístico – porque o povo também tem direito a uma casa de férias!
Tal como uma mulher desprezada, a Altura degradou-se. Perdeu a beleza natural e tornou-se parola. Mas foi uma das minhas primeiras praias e a ela voltei todos os verões da minha vida. Sinto-a, pois, como território meu, como a tia desdentada que embaraça a família mas é do meu sangue. E como não é uma pessoa mas um lugar, tem defesas que eu sempre soube aproveitar. Marcas territoriais, traços fisionómicos em que me concentro para vê-la como quero, defendendo-me do que não quero ver.
Mesmo no pino do Verão, com as praias pejadas de veraneantes chinelantes, de barriga de cerveja e anel no mindinho, eu tenho os meus refúgios, que são partilhados por quem, como eu, conhece os segredos da Altura.
Havia um barzinho onde passava as minhas noites de adolescência. Feito de madeira rangente, com uma esplanada ampla rasgada para o acesso à praia; era frágil, despretensioso e risonho como um bar de praia deve ser. Nele juntavam mesas os habitués, formando animados grupos. Estava ao abandono, quase em ruínas.
Na praia onde eu aprendi a nadar e tive os meus primeiros flirts de Verão; onde o meu filho viu o mar pela primeira vez, tudo está a mudar e a perder as características de que eu sempre gostei!
Dir-se-ia que a minha praia estava a deixar de o ser…
Mas eis que aparece alguém com um plano, plano esse que parece ter sido concebido por quem adora praia e adora a Altura. A esplanada e o barzinho em ruínas ganharam vida. Foram reconstruídos e tiveram direito a vida nova!
O velhinho Tropical, do tempo do Michel, é hoje um espaço limpo e arejado, despretensioso, com uma alma e uma vida nova – um beach laundg: o Tropical (na mesma)!
Uma esplanada agradável com um look moderno, mas sem esquecer o lugar, inspirado no norte de África – ali tão perto. Um local onde se pode conversar, ouvir música, estar com os amigos, relaxar, tal como “no meu tempo”. Um local sem gajos grávidos de cerveja e anel no mindinho, nem famílias numerosas cheias de putos a chiar e a correr por todo lado. Um local onde duas gerações se juntaram (minha e a do meu filho) fazendo com que aquele continue a ser a nossa praia!
Parece que afinal a minha Altura consegue renascer das cinzas, qual Fénix!