Os nossos idosos...
Os nossos idosos foram quase sempre pessoas extraordinárias ao longo de sua vida “produtiva”. Eles têm, quase sempre, uma história linda de perseverança, de coragem, de derrotas e superações. Eles têm uma história, que está viva em nós!
Por isso, hoje, quando eles beneficiam (sem culpa) de momentos de inutilidade, eu me encho de ternura. É bom vê-los sem a neurose das contas, sem a necessidade de cumprir afazeres, obrigações.
Nas suas vidas inúteis eles estão livres!! Eles podem conversar com os amigos imaginários nas fotos, eles podem saborear os pequenos prazeres da vida: dormir, passear, ouvir música sem preocupação. Agora chegaram àquela fase da vida em que têm quem cuide deles, quem lhes dê as refeições a horas, lhes lave a sua roupa, lhes dê o banho, quem dance com eles, e lhes ponha na cama cobertas quentinhas.
Eles são vidas que foram vividas na plenitude, mas, em muitos casos, sempre acorrentadas ao trabalho, à obrigação, ao dever. Agora, não. São corpos dançantes, que tomam vinho e dispensam o que não querem comer.
É por isso que a vida deles importa. Tanto quanto a de um jovem que ainda não viveu tudo o que eles já percorreram. É por isso que não é possível (não se deve) escolher entre um e outro. Cada um é um universo. O jovem, ainda em jornada. O velho, que já cumpriu tanto.
A proposta do “deixa morrer os velhos e os fracos”, que aparece agora, com a pandemia, tem-me consumido os dias e noites. Não posso aceitar. Porque, como Manoel de Barros, tenho respeito pelas coisas inúteis, que existem apenas para prazer. Um velho dedal esquecido numa caixa, um quadro sem valor, um lápis de cor partido. Coisa que lembram beleza. Os velhos, esses seres de tanta vida, são assim. Seres de fruição. Evocadores de beleza. Eles merecem viver sem a pressão de serem úteis.
Eles são velhos, inúteis agora, mas já traçaram um caminho nesse mundo imenso. As suas vidas importam. E muito. Assim como a vida de todos os velhos e velhas desse planeta azul, cheios de histórias, memórias e encantos!